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Eleições nos novos tempos…
O contexto eleitoral
A pandemia e as consequências que trouxe para os portugueses, nomeadamente os receios sobre o seu futuro e o desânimo criado pelos sucessivos confinamentos, levaram a que as campanhas das últimas autárquicas e das atuais eleições legislativas tivessem lugar num contexto totalmente atípico. A este facto podemos juntar a queda continua das taxas de aprovação dos políticos e a limitação dos tradicionais eventos de campanha, devido ao isolamento da população.
Todos estes fatores fizeram com que os marketeers políticos envolvidos neste ato eleitoral tivessem, necessariamente, que ponderar o desenho das suas estratégias de marketing eleitoral e inovar, e que os meios de comunicação procurassem novas fórmulas para a cobertura mediática das eleições legislativas.
Os 36 debates realizados entre todos os candidatos dos partidos com assento parlamentar, que tiveram lugar na primeira quinzena de janeiro, foram uma nova resposta ao contexto e, na minha opinião, obtiveram resultados muito positivos: boas audiências e um fecundo debate de ideias. Diria que esta ‘primeira parte’ da campanha foi bastante esclarecedora para os eleitores e promoveu uma melhor distinção entre partidos.
Os partidos e as estratégias eleitorais
Estas eleições estão a disputar-se, mais do que nunca, ao centro. Segundo as mais recentes sondagens, cerca de 70 por cento dos eleitores nacionais considera votar no PS ou no PSD, para eleger o próximo primeiro-ministro. Mas esta disputa eleitoral não se fica por aqui. É que, uma vez que não se perfila uma maioria absoluta para nenhum dos dois partidos do centro, existe uma diversidade de partidos, à direita e à esquerda, a tentar ganhar relevância para uma futura solução governativa. E estas duas lutas estão a dinamizar, e muito, esta eleição. E no centro de todas as disputas encontra-se o ‘voto útil’.
Uma parte do eleitorado dos partidos tradicionais é-lhes fiel, razão pela qual a disputa política não vai ser pela conquista deste eleitorado, mas do ’eleitorado flutuante’, dos indecisos e dos abstencionistas, pelo que as campanhas desenvolveram estratégias claras de conquista do ‘voto útil’. Veja-se, como exemplo, o ‘restyling’ de Catarina Martins. Não é por acaso. A candidata quer falar para a ala esquerda do PS e colocou ‘a sua melhor imagem’ para o efeito. Ou o estilo e o discurso de Francisco Rodrigues dos Santos muito dirigido para o eleitorado do CDS que escapou para o Chega.
À exceção do Livre e da IL, que inovaram no conteúdo, e do PSD, IL e CDS que trazem frescura no tom das campanhas, não me parece que, na sua grande maioria, as estratégias de campanha tragam grandes novidades. Concorde-se ou não, o Livre trouxe inovação ao debate com a sua proposta do Rendimento Básico Incondicional e a IL com o Flat Tax. E, goste-se ou não, o PSD e o CDS apresentam campanhas que acrescentam o sentido de humor à sua estratégia e, como tal, uma componente mais emocional à campanha.
Na batalha principal, o PS, partido incumbente, tem deixado passar algum cansaço e, em alguns casos, até alguma arrogância, o que lhe pode custar caro. No entanto, está a tirar partido, e bem, da segurança da continuidade. Poderia fazê-lo acrescentando entusiasmo, que me parece inexistente, e elementos novos, o que, até à data, ainda não aconteceu. Por seu lado, o PSD apostou na figura de Rui Rio e nas suas características, para convencer os portugueses. A imagem de frontalidade e o humor têm sido a arma face a alguma arrogância do incumbente. Falta saber se estas características oferecerão, ao eleitor, a segurança necessária para dar a vitória ao atual líder da oposição.
Estamos a muito pouco tempo das eleições e não sabemos se o isolamento de cerca de 1/10 da população não será um fator desestabilizador dos resultados e contrariar todas as estratégias, todas as sondagens e todos os analistas políticos. São as eleições, nos novos tempos…
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